Naquela manhã, o povo de Varin acordou com um sorriso nos lábios e muitas expectativas no coração. Havia sido espalhada a notícia de que, naquele dia, Amara seria recebida pelo rei de Agaloth, e que, como a nobre que em tempos fora, a sua senhora negociaria com ele uma aliança. Eram, pois, muitos os que se haviam reunido em frente à casa de Amara, onde os que, entre os seus, haviam sido escolhidos para a acompanhar, não esperavam senão a sua senhora para partir na sua augusta missão.
Dos seus homens de confiança, Amara escolhera Mordechai para a acompanhar, não por predilecção, mas por utilidade. O antigo lorde tinha espírito de diplomata e prova disso fora a rapidez com que lhe conquistara aquela audiência. Não deixava, contudo, ninguém para segundo plano e, na sua ausência, seria Soran Fadenbran, o seu consorte, a tomar as decisões que se revelassem necessárias, com a sempre sábia ajuda de Andros, o seu velho mestre.
Ninguém estava preparado, contudo, para o que viram quando a porta da casa se abriu. Tanto os soldados que a acompanhariam, como as gentes do povo e até os nobres a fitaram, boquiabertos, quando Amara surgiu, bela e esplendorosa como a estrela da manhã. O majestoso vestido de veludo escarlate moldava-lhe as formas na perfeição e a sua pele pálida e sublime brilhava sob a luz do sol, contrastando com o brilho dos seus cabelos cuidadosamente penteados numa suave cascata. Descendente de reis, aquela não era apenas Amara Morningstar, senhora dos condenados. Aquela era Calana Westraven, e tinha o porte imperial da senhora que devia ser.
Por um momento, Amara fitou-os com solenidade, o seu rosto fechado uma máscara de altiva calma. Depois, um suave sorriso desenhou-se no seu rosto e todo o espaço pareceu ficar ainda mais luminoso.
- Independentemente do que vedes, - disse, percorrendo o seu povo com um olhar terno – eu continuo a ser uma de vós.
Uma imensidão de aplausos ergueu-se da multidão. As palavras da senhora aqueciam o coração das gentes, pois viam que, sob o luxo de que se cobrira para impressionar o rei das terras que ocupavam, Amara continuava a ser a mesma mulher que lutara e lutaria pelas suas vidas e pela sua liberdade.
- Nós sabemos. – replicou Andros, quando os aplausos silenciaram – Nunca duvidaremos de quem és,
Amara assentiu.
- Deverá ser curta a minha ausência, - prosseguiu – mas, para tudo o que for necessário, deixo a minha autoridade nas mãos do lorde Fadenbran.
- Por favor, Amara… - interrompeu este – Eu já não sou um lorde.
Amara estendeu-lhe a mão.
- Para mim és. – respondeu. Depois, lançando um último sorriso ao seu povo, prosseguiu:
- Devo partir. Mas antes, Soran, e se não te importares, poderias acompanhar-me à carruagem? Existem algumas indicações que gostaria de te transmitir sobre os nossos… convidados.