Capitulo Segundo
Um corvo apoucado e esguio crocitava em cima de um arvoredo que separava os jardins mal tratados que circundavam o castelo da floresta jubilosa que se situava do lado direito deste, onde o rei e o seu filho habitualmente caçavam. O descarnado pássaro anunciava a aproximação da noite. Porém este espaço de tempo entre o crepúsculo da tarde e o crepúsculo da manhã era dissemelhante de todos os outros, pois, no dia seguinte, desenrolar-se-ia o enlace pelo qual todos aguardavam, o casamento do príncipe, a sua união com Isís Razza, herdeira de Arus Razza e da sua mulher Yasmin.
Arus era notabilizado pelo seu engenho na construção e trato dos apetrechos de combate mais aperfeiçoados, as espadas mais resistentes, as flechas mais venenosas, as armaduras mais elegantes coordenando o conforto e a sua utilidade. Reconhecido em todos os reinos e somente obstado de comercializar em Castella, Arus Razza tornara-se mais rico do que aqueles que procuravam os seus serviços, adquirindo os melhores terrenos do reino e subornando todos aqueles que tinham conhecimento do seu segredo.
Todavia, a noite não aparentava ter alguma afeição especial pelo dia que se avizinhava. O ar era frio afugentando as pessoas para o conforto de suas casas. As gotas de chuva começaram por cair timidamente, sinalizando os passeios de pedra que ligavam o castelo às restantes casas, mas, à medida que o tempo se filtrava em direcção à cerimónia real, as pequenas e acanhadas gotas de chuva multiplicaram-se, intimidando até um cão mais corajoso que ainda vagueava na rua. As nuvens perderam a sua pureza e deu-se lugar à explosão das mesmas com raios tenebrosos. Um dos raios atingiu o arvoredo onde o corvo se encontrava. O pássaro já sem vida caiu em breve tempo ao chão, os seus olhos petrificados em surpresa pela morte veloz que o atingiu.
- Como chove lá fora. É mau prenúncio. – afirmou a rainha. – Odeio quando chove antes de um casamento. O último casamento onde me lembro de um tempo assim foi de um primo do rei. Morreu numa batalha…já faz dez anos.
Isís que se encontrava frente a um espelho a apreciar o seu vestido, fitou a rainha incrédula.
- Não agoire, minha rainha. O meu desassossego já nem me tolera uma noite inteira de um bom sono.
- Não julgues que desejo o teu mal, antes o oposto. É por isso minha obrigação acautelar-te.
- A rainha examinou minuciosamente todos os pormenores. É necessário tanta preocupação?
- Os avisos da natureza servem para nos alertar para o imponderável.
A rainha saiu do quarto, deixando Isís na companhia de Ada, a escrava.
- A rainha tem razão. – começou Ada – A natureza tem uma força muito mais poderosa que qualquer humano. O rei pode ser um deus com marionetas nas mãos, e nunca acredite que lhe pode fazer frente. Mas perante a natureza não possui força alguma. Somos todos e sem excepção fantoches de algo maior…
Isís sentou-se na cama, colocou as suas mãos sobre os joelhos enquanto os seus olhos passeavam pelo chão de pedra mal tratada.
- Gozo do noivo perfeito, - disse - de um vestido magistral, de um castelo fabuloso. Não há possibilidade de correr mal, recuso-me a acreditar que todos os esforços que conduzimos para o êxito da cerimónia sejam prostrados por desígnios da natureza.
- Não se aborreça comigo, princesa.
- Não vou. Apenas deixa-me sozinha.
Ada obedeceu e saio do quarto, largando Isís absorvida na sua inquietação.
Naquele mesmo instante o rei permanecia na sala de armas do castelo. Com um olhar desatento, errava entre as espadas e lembranças de triunfos antigos, enquanto, diante de si, o seu filho Adhemar se divertia, movendo em círculos uma pequena navalha com a qual desenhava na mesa de madeira o cunho do reino.
- A tua serenidade surpreende-me. – afirmou o rei – Julgas que amanhã será alguma zombaria?
- Amanhã será um dia proveitoso. – respondeu Adhemar – Porque devo estar apoquentado? Não é um dia que me interesse. Apenas negócio.
- A tua noiva raciocina de forma diferente. A sua ingenuidade consente a ter como verdadeiro o teu afecto por ela.
Adhemar largou a navalha que tombou sobre a mesa sem ruído.
- Meu pai. A única mulher que me é digna de alguma consideração é a minha mãe. Por ser mãe e rainha. A utopia da minha inocente noiva não me causa preocupação. O casamento servirá somente para a união eterna entre o castelo e o ferreiro mais eficiente do reino não permitindo a deslocação de Arus Razza para longe dos nossos destinos. Continuarei a vida que tenho tido, a vida boémia que me corre no sangue. Não adianta faltar à verdade, pois sabe perfeitamente que não serei leal à mulher que desposarei amanhã.
Amon abriu a porta de saída e alertou o filho antes de sair.
- Encobre as tuas conquistas e dissimula as noites sem juízo. É o teu dever como filho do rei e futuro marido.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
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3 comentários:
Muito bem ^^
Espero pela próxima parte! Quero realmente ver o que se irá suceder durante o casamento.
Fico fascinada com o realismo que conseguem transmitir. Claro que existem inúmeros homens como este principe boémio... Espero que haja muita luta e pancadaria nesse casamento :p
so tenho a dizer uma cena a dizer acerca desta parte...empolgante!!! A crueldade e falsidade do Adhemar é tanta k me deixou curioso pa ver como se vai desenrolar o casamento! sera k ele vai levar os seus planos avante? unnnhhh.. xD
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