- Mamã…mamã… - uma petiz de aparentes quatro anos suplicava para que a sua mãe a resgatasse das mãos do cruel homem que a levava. A mulher não mostrava um pingo de comoção, a sua expressão facial era fria e inalterável. Aquele momento era a solução perfeita.
- Mamã…não quero ir…Mamã…- repetia a criança.
- Está aí o saco de moedas de ouro como o combinado. – disse o homem – Por ela – apontou para a criança – e pelo esquecimento deste dia. É o melhor para todos. É, sem dúvida, o melhor para ti.
A expressão de gelo da mulher foi interrompida por um breve sorriso.
- Não… Não cometas esse erro. Não me ameaces. Que julgas tu possuir? Quem tens para te proteger? És um simples peão. Um insignificante peão. – a mulher pegou um monte de areia e soprou – Vês? Livrar-me de ti seria tão simples como isto.
- Até as filhas do demónio têm os seus pontos fracos. Aparece para atrapalhar a minha vida e verás do que sou capaz!
- O negócio está fechado. Não costumo desfazer tratos.
O homem seguiu o seu caminho com a criança enquanto a mulher ficou estática, indiferente aos constantes gritos da criança. Assim que os dois desapareceram do alcance da sua visão agarrou com força o saco de moedas e sorriu.
A sua alegria, contudo, foi interrompida pela escuridão que subitamente invadiu o céu. O dia fez-se noite e um corvo pousou no seu ombro direito, esticou-se e, com o seu bico, roubou o saco e deitou-o ao chão. A mulher ajoelhou-se para recuperar o saco, mas parou incrédula ao deparar-se com ossos que substituíam, agora, as moedas de ouro. Ao longe avistou uma sombra. Foram precisos longos minutos para finalmente reconhecer quem se encaminhava lentamente na sua direcção. A sua filha….a criança de quatro anos…caminhava ensanguentada, os seus olhos vidrados, as suas mãos esticadas como procurando ajuda em desespero.
- Mamã…mamã... – repetia cada vez mais próxima - Ajuda-me que vou morrer…
A mulher levantou-se e deu dois passos para a frente ficando mesmo ao lado da filha, sem soltar uma lágrima. Queria somente descobrir o que tinha acontecido.
- Mamã… - a criança ajoelhou-se perante a mulher – Só tu me podes ajudar.
A petiz cuspiu sangue e caiu inerte aos pés da mãe.
Ofélia acordou. O seu corpo estava quente. Confusa, olhou em redor, tentando entender aquele sonho e o porquê de surgir agora.
- Está a anoitecer! – exclamou o príncipe, preocupado – Temos de arranjar um lugar para ficar.
- Mais uma hora e chegamos ao nosso destino. – respondeu Delenia – Não vou pernoitar por tão pouco.
- Daqui a meia hora vai ficar tão escuro que nem os nossos corpos reconheceremos. É melhor passarmos aqui a noite. Em segurança.
- E passaremos em segurança. No nosso destino. Para que quer passar aqui a noite, príncipe? Eu não sou nenhuma mulherzinha da cidade fácil de enganar e com um fascínio inexplicável pela sua presença.
O príncipe sorriu. “Que mulher teimosa”.
- Onde vai, princesa? – questionou Rómulo.
- Aproveitar a noite para resolver um problema pendente – respondeu Elara – Uma espinha encravada.
- Não percebo. Acha que a sua ausência não será notada? Bem sei que a morte de seu pai não lhe cobra lágrimas mas fingir era um mínimo precioso.
- Neste momento a minha mãe continua ocupada com as suas grotescas torturas e o meu irmão está desaparecido. O funeral de meu pai será amanhã e estarei cá bem a tempo. Vou aproveitar a noite para ir à caverna de Luath.
- Matar a bruxa? – perguntou Rómulo sorrindo – E não quer a minha companhia? Seria a cereja em cima do bolo.
- Não, ainda não.
- Então? Que negócios tem com ela?
- A bruxa sabia o que ia acontecer. Quero saber porque ela não me alertou para intrusos. Quero saber quem levou o meu irmão.
- Está a pensar salvá-lo?
- Pelo contrário. Quero garantir que morre. – respondeu Elara – Além disso, quero saber que intenções têm esses intrusos e se me poderão atrapalhar no meu assalto ao trono.
- Não percebo o porquê de continuar a poupar a vida a essa inútil…
- Eu não preciso de ti para pensar – a princesa montou no seu cavalo – Limita-te a fazer o que eu mando se ainda sonhas com algo mais do que és. Se alguém questionar a minha ausência, tenta inventar uma desculpa credível.
- Como desejar, princesa.
Elara seguiu em direcção à caverna.
As parcas luzes provocadas por fogueiras irrompiam a escuridão, Delenia sorriu.
- Chegamos . – disse falando mais para ela própria do que para o príncipe.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
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1 comentário:
Tinha comentado esta parte do outro dia, mas o comentário não ficou cá...
Enfim, mas o facto é que nada mais tenho a acrescentar ao que digo anteriormente. A história está a ficar muito interessante ^^
Beijinhos!
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