Divagava com o olhar por todas as sombras do espaço, como se detrás de uma coluna ou escondidos numa esquina, pudesse haver uns olhos que o espiassem. Sentia com toda a força a tensão que se instalara no palácio real e, ainda que tivesse tratado de eliminar todas as provas que o podiam indiciar, não deixava de notar que a rainha lhe dirigia demasiada atenção. Fora um alívio para si ver que Durun morrera com os seus segredos, mas isso não significava que estivesse salvo. E que razões poderiam explicar a obsessão de Alessandra pela sua pessoa, mandando-o chamar a qualquer hora, com a escusa de supervisionar as investigações no respeitante à morte do seu marido e ao desaparecimento do seu filho?
Inconscientemente, Lothian apressou o passo. Parecia que os corredores do palácio se haviam alongado interminavelmente e que horas haviam já decorrido desde que deixara os seus aposentos em direcção à torre dos mensageiros. Escondido entre as vestes, levava a derradeira prova da sua cumplicidade na conspiração e tudo o que desejava era livrar-se dela o mais rápido possível. A partir daí, que Amara decidisse o que queria fazer. Sabia, contudo, que caso fosse encontrado com aquele documento em sua posse, seria desmascarado e, sem dúvida alguma, submetido ao mesmo hediondo destino que Durun.
- Boas noites, conselheiro. – cumprimentou uma voz atrás de si, levando a que o seu corpo se retesasse de pavor. Ao voltar-se para fitar o rosto do seu interlocutor, contudo, o seu nervosismo transformou-se numa máscara de arrogância, ao ver que se tratava de um simples soldado, um de entre os muitos que patrulhavam o palácio.
- Boas noites, soldado. – respondeu – Precisas de algo?
- Não, senhor. – replicou o soldado – Pretendia apenas certificar-me de que era o conselheiro e não um estranho.
- Fizeste bem. – observou Lothian – Nesse caso, prosseguirei o meu caminho.
O soldado assentiu e, cumprimentando-o com um rígido gesto militar, seguiu com a sua ronda.
Poucos passos depois, contudo, ao alcançar, enfim, a escadaria da torre, a gélida máscara do conselheiro quebrava-se sob o temor que ocultava e um leve suspiro saiu dos seus lábios, expressão do alívio que subitamente o invadira.
- Ainda vais ser a minha morte, - murmurou – Amara Morningstar.
Quando o corvo chegou ao seu destino, Amara fitava as estrelas, buscando no manto dos céus a serenidade que não conseguia encontrar no seu coração. Mirian não conseguira ver com exactidão o que ocorrera em Lithian. Era demasiado jovem para controlar o seu poder de forma eficiente. Dissera-lhe, contudo, mais que o suficiente para que os seus pensamentos explodissem numa tempestade de nervosismo. Haviam falhado. Quantos teriam morrido, pois? Quantos voltariam para si? E Soran? Estaria ele…?
O som do crocitar do mensageiro, momentos antes de pousar no seu ombro, despertou-a das suas divagações. Lentamente, estendeu a mão para a ave, removendo-lhe da pata o pequeno embrulho que escondia a mensagem. Depois, enquanto o corvo voltava aos céus de onde viera, Amara fixou o seu olhar na letra do conselheiro Lothian e lágrimas de dor e de alívio inundaram os seus olhos.
Sabia agora o essencial do que sucedera, ainda que muito tivesse ficado por explicar, e ainda que o derradeiro resultado tivesse sido uma derrota, as consequências não haviam sido tão graves como as que a sua mente imaginara. Segundo a informação que tinha diante de si, Amon Raven, fora morto por uma flecha desconhecida, e não por um dos seus, mas, ainda assim, morrera. O caos que se instalara, contudo, impedira que os seus agentes cumprissem com a sua missão. Sabia que Durun fora capturado e torturado até à morte, mas que nada dissera, e, ainda que sentisse alguma suspeita quanto à sua pessoa, Lothian mantinha o seu posto na corte. De Avalen e Delenia, nada sabia, excepto que vira esta última, pela última vez, perigosamente próxima do príncipe Adhemar, que também desaparecera sem deixar rasto. Quanto a Soran Fadenbran, vira-o desaparecer entre a multidão na companhia de Caledon Westraven que, desde esse momento, não voltara a ser vislumbrado.
Um leve sorriso ganhou vida nos lábios de Amara. O rei estava morto e Adhemar e Caledon desaparecidos. Dos seus, apenas um morrera, e, ainda que lamentasse genuinamente essa morte, era, sem dúvida, um resultado um pouco melhor que o que esperara após a visão de Mirian. Delenia e Avalen… Seguramente voltariam para Varin, caso estivessem bem, e Soran… Não deixaria de voltar para os seus braços. Previa até que o lorde tivesse sido o único a cumprir a sua missão com sucesso. Talvez em breve tivesse o seu odiado irmão à sua mercê. Mas uma pergunta continuava a perturbar o seu pensamento. O que teria acontecido a Adhemar?
sábado, 21 de fevereiro de 2009
Capítulo IV (Parte II)
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1 comentário:
Bom, como sempre ^^
Fico à espera de mais!
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