domingo, 19 de julho de 2009

Capitulo VI (Parte III)

Gélida. Sem um pingo de emoção que fosse visível. Nenhum dos presentes conseguia assistir a qualquer manifestação de dor da rainha. Enquanto o padre Ardheus recitava o discurso habitual em funerais, ela já o sabia de cor e estava muito mais interessada no pagamento que se seguiria. Os nobres presentes surpreendiam-se com a quietude da rainha e de Elara. Ambas olhavam para o caixão sem soltar uma lágrima, sentimentos diferentes, pensamentos diferentes que os presentes não podiam saber. Alessandra só queria que aquele momento perturbador acabasse. O seu discurso foi curto, e mais do que falar do rei, falou do que planeava.
- Amanhã tudo ficará diferente! A vingança será terrível. Quem provocou esta tragédia não ficará impune! Quem levou o meu filho terá o castigo merecido! O rei partiu mas o reino não ficará mais fraco! Garanto-vos! – exclamou a rainha com um tom de voz amargo mas convicto – Farei com que se arrependam eternamente.
Rómulo aproximou-se de Elara, tocou-lhe no ombro e ambos afastaram-se dos presentes.
- A rainha está tresloucada. – afirmou Rómulo – Procura o autor deste bilhete.
O homem entregou o pedaço de papel à princesa, esta leu e voltou-o a dobrar.
- Pensas que fui eu? – questionou Elara –Pois, estás enganado.
- Se não foi a princesa mais uma razão para preocupação. Quem anda pelo castelo que sabe isto tudo? Há mais alguém que sabe mais do que parece. E se esse alguém também tiver conhecimento dos nossos planos?
As pessoas iam abandonando a cerimónia. Dois soldados atiravam terra para cima do caixão para o cobrirem e, por cima deles, um corvo andava em círculos em silêncio, como se não quisesse ser notado.
O caixão desaparecia lentamente, aos olhos da rainha, e esta não evitou um sobressalto quando alguém lhe tocou nas costas.
- Minha rainha – cumprimentou Arus Razza – Primeiro, queria deixar os meus pêsames pelo trágico acontecimento. Mas não é só isso que me traz cá.
- Presumo que queiras saber notícias de meu filho, noivo da tua semente – suspirou a rainha – Pois ainda nada sei. Amanhã partiremos.
- Mais do que isso, tenho uma oferta para si, minha rainha – sorriu Arus Razza – Eu conheço muito bem a floresta. Na minha juventude muitas vezes a percorri. Fazia parte de um grupo de corajosos…ou estúpidos que gostavam de quebrar barreiras e fronteiras. Os meus conhecimentos podem ser muito úteis.
A rainha olhou para ele sem disfarçar o incómodo.
- Queres aliar-te aos meus soldados? – questionou – Quererás colocar a tua vida em risco…pelo meu filho?
- Poderia mentir e dizer que sim. Também poderia mentir e dizer que era pela minha filha, mas na verdade há algo mais que eu quero.
- E o que seria?
- A morte da bruxa!
- Como? – perguntou a rainha, incrédula – O que estás a sugerir?
- O resgate do seu filho em troca da cabeça da bruxa Ofélia.


Isís também já não estava no local do funeral, andava aos círculos pelo jardim mais próximo. Subitamente parou e deixou-se cair. As lágrimas caíram pelo rosto, quando começou a arranjar a erva, furiosamente repetindo “Estive tão perto, estive tão perto”.
 

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