segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Capitulo VI - Parte V

A rainha não precisou de muito tempo para tomar uma decisão. Rómulo foi nomeado o chefe da missão e escolhou cinco homens da sua confiança, ajoelhou-se perante a rainha e prometeu que ainda durante aquela tarde traria a cabeça da bruxa. Alessandra olhou para Arus Razza com um sorriso triunfante.

- Pois vês, a minha promessa será cumprida. - fez sinal a Rómulo para se levantar - Ainda hoje poderás pendurar a cabeça daquela odiosa criatura na tua sala e tomar chá olhando para os seus olhos mergulhados em sangue!
- Assim o espero - respondeu Arus retribuindo o sorriso - Que tudo farei para que amanhã tenhas o teu filho de volta.
- Não há tempo a perder. - afirmou a rainha, olhando para Rómulo - Sigam para a caverna de Luath imediatamente.
- Com todo o prazer - anuiu Rómulo com toda a satisfação - Vamos!
Os seis soldados encaminharam-se para a caverna perante o olhar da rainha e de Arus.

Na caverna de Luath enquanto Ofélia aquecia as suas mãos em uma pequena fogueira um dos seus corvos andava à sua volta crocitando sem parar.
Ofélia colocou as suas mãos no meio do fogo, manteve-as alguns segundos e depois retirou-as. Nem um sinal de queimadura. De seguida olhou para o corvo acenando com a cabeça afirmativamente.

- Como? Porque razão confia em Arus Razza, minha mãe? - questionou Elara depois de saber do acordo - Que prova de confiança tem?
- Arus só tem a ganhar com o regresso do teu irmão. O casamento é também do interesse dele. É por isso que eu sei que a sua palavra é verdadeira.
- Confia demais, minha mãe.
A rainha suspirou.
- Além disso, é um favor que me faz. Aquela bruxa nunca foi de bons prenúncios. E temo que mais cedo ou mais tarde pudesse causar danos no reino.
- Sabendo o ódio que Rómulo sente por ela...
- Ela está condenada. - sorriu a rainha - Condenada...

A tarde ia a meio quando Rómulo e os cinco homens avistaram a caverna de Luath.
- Façam pouco barulho agora. - avisou - Todo o cuidado é pouco.
Um dos soldados soltou um pequeno grito quando bateu com o seu joelho numa pedra.
- O que é que eu disse, Aramith? - perguntou Rómulo irritado - Pouco barulho!
Escondiam-se de rocha em rocha até chegarem perto da entrada da caverna. Quando estavam prestes a entrar, o barulho de inúmeros corvos fez com que estes olhassem para o céu.
Os corvos voavam em círculos e, subitamente, o vento fraco que soprava aumentou a sua intensidade.
- Feitiço! Feitiço! - exclamava Aramith amedrontado - Vamos morrer!
Rómulo apontou a sua espada em direcção à garganta de Aramith.
- Cobarde! A única pessoa que morrerá hoje é a bruxa! - exclamou Rómulo.
Os seis soldados entraram na caverna, onde a escuridão era total.
- Mal vejo onde piso. – Yaro, um dos outros soldados, avançava lentamente seguindo Rómulo.
- Ela já sabe que estamos aqui. – suspirou Rómulo – Prepararem as vossas espadas.
À excepção de Rómulo todos os outros soldados tremiam, receosos do que pudesse acontecer. Uma coisa era enfrentar um homem em combate, outra completamente diferente era ter como adversária uma bruxa. Tanto Yaro como Aramith repetiam muitas vezes que as bruxas não eram humanas. Teriam eles hipóteses contra alguém assim?
- Cumpre o teu dever – uma voz mórbida ecoou dentro da caverna – Aqui estou, daqui não fugirei. Faz o que tens a fazer. – disse Ofélia, aproximando-se de Rómulo.
Os restantes soldados afastaram-se, Ofélia encostou o seu pescoço à lâmina da espada do guerreiro.
- Se é o que desejas. – a bruxa sorriu – Força!
Rómulo paralisou alguns segundos, aquela criatura…a face da bruxa estava cheia de pó, o seu sorriso desvendava a falta de dois dentes, cheirava mal como se nunca tivesse tomado banho, os seus cabelos negros desalinhados dançavam ao sabor do vento que mesmo dentro da caverna continuava forte.
- Vamos, Rómulo! Bravo soldado do reino! Mata-me! Elimina-me antes que conte o teu segredo! Deixa o meu sangue correr até ficar estendida no chão inerte antes que revele o porquê do teu ódio! Antes que grite aos céus o teu apelido!
O rosto de Rómulo soltava fúria, apertou a estada com força, já não conseguia controlar o ritmo da sua respiração, desencostou a espada do pescoço da bruxa e em um movimento rápido atingiu um dos seus soldados, de seguida o segundo e o terceiro, sobrando apenas Yaro que tentou fugir enquanto gritava que a bruxa tinha possuído Rómulo.
- Tghar’em n’art! – exclamou a bruxa.
Vários corvos mergulharam na direcção de Yaro, provocando uma morte demorada e dolorosa.
Rómulo olhou para a bruxa fora de si.
- Um dia… Um dia acabaremos com isto!
O soldado dirigiu-se para a saída da caverna perante o olhar atento de Ofélia que sorria enquanto os corvos iam repousando nos seus braços.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Capítulo VI (Parte IV)

- Julgo que te devia uma visita, – observou Amara, ao entrar no quarto despido, improvisadamente transformado numa cela – príncipe Adhemar.
O príncipe ergueu o olhar, sobressaltado. Havia, na expressão das suas orbes, um medo quase incontrolável, como se o tempo passado naquela cela tivesse quebrado toda a sua arrogância. E o seu olhar era, de facto, suplicante e assustado quando perguntou:
- Vieste para me matar?
Amara sorriu, enigmática.
- Deste-me algum motivo para que o faça? – inquiriu.
- Não! – exclamou o príncipe, perturbado – Não, eu… Eu juro que não fiz nada!
- Então diz-me… Porque julgas que vou acabar com a tua mísera vida?
Adhemar estremeceu.
- Eu… - balbuciou – Não sei… Eu sou o inimigo. Talvez… me tenhas condenado.
Rasgando o silêncio, o riso cristalino da mulher encheu o espaço. Era impossível não se divertir ante a abjecta humilhação do jovem e boémio príncipe. Aquele que, em tempos, fora destinado a ser o seu esposo, era agora apenas um destroço.
- Ainda não, Adhemar. – declarou, e sorriu ao ver o alívio que se desenhava no rosto do príncipe – Ainda posso encontrar alguma utilidade para ti. Desde que continues a comportar-te devidamente… ainda podes viver.
Adhemar assentiu efusivamente.
- Sim… - balbuciava – Sim. Eu faço o que quiseres. Tudo o que quiseres.
- Óptimo. – concluiu Amara – Na verdade, estava apenas de passagem. Tenho uma visita mais… premente a fazer a outro prisioneiro. De momento, vou deixar-te em paz.
Amara não esperou pela resposta. Limitou-se a voltar costas ao príncipe e a deixar a cela, sorrindo vagamente quando ouviu o som da chave na fechadura enquanto o guarda atrás de si trancava a porta.
- Agora o próximo. – declarou Amara, com um sorriso misterioso – O meu querido Caledon.

Havia uma ausência no seu olhar, como se divagasse na distância do horizonte infinito, e o seu rosto parecia tão fechado na sua sombra soturna que Delenia hesitou em interromper os seus pensamentos. Na sua mente, contudo, havia também uma sombra, a certeza de uma traição cometida contra alguém que, ainda que fosse, na verdade, um inimigo, conquistara, com a sua estranheza, um coração frio. E ela precisava de o ver, de se explicar… De confessar o turbilhão de sentimentos que agitavam as paredes do seu mundo e a incerteza do sentimento que a levara a salvar uma vida que entregava, depois, nas mãos dos seus antagonistas.
- Lorde Fadenbran. – murmurou, hesitante, sem saber se ele a ouviria. Soran, contudo, voltou-se em resposta ao seu chamado e, sorrindo levemente, fitou-a com um olhar profundamente triste.
- Já não, receio. – observou – Agora sou só mais um rebelde. Suponho que isso torna os títulos desnecessários.
Delenia assentiu.
- Eu… - disse – Queria pedir-lhe…
- Pedir-te. – corrigiu Soran, benevolente.
- Isso… Queria pedir a tua ajuda.
- Temo que não possa fazer muito por ti – prosseguiu o lorde, pensativo – se me vens pedir que interceda pelo teu cativo. Ele é um Raven e o ódio de Amara não tem limites… Além disso, não podes dizer que o Adhemar seja uma pessoa exemplar.
- Eu sei. – replicou Delenia – Não me atreveria a esperar tanto. Eu só queria… Queria vê-lo. Queria explicar-lhe que…
Soran interrompeu-a.
- Permite-me que te deixe um conselho. – disse – Afasta o teu coração desta guerra. Enterra-o bem longe de ti, se puderes. É ele que te fala no príncipe. Foi ele quem te impediu de o deixar morrer. E, se não o silenciares, acabará por te condenar.
- Vês demasiadas sombras no amor – observou Delenia – para quem é, afinal, o consorte da líder.
Soran lançou-lhe um olhar vazio, gravando o arrependimento na mente de Delenia antes mesmo que as palavras acabassem de se desvanecer.
- Pareço um homem de sorte, não é verdade? – perguntou – A verdade é que o sou. Calana Westraven… Não. Amara Morningstar é a mulher mais forte e nobre que conheci em toda a minha vida. Mas é também a força base da nossa guerra e isso exige sacrifícios. Temo que, um dia, acabarei por a perder. Mas estou já demasiado perdido para seguir o meu próprio conselho. – acrescentou, com um suspiro cansado.
Delenia não respondeu. Não saberia o que dizer quando falavam da mulher que mais admirava, mas que, ao mesmo tempo, mais temia com a sua justiça fria e o seu voto de vingança sem piedade.
- Mas querias pedir a minha ajuda. – observou Soran, quebrando o silêncio – O que posso fazer por ti? Sabes que não é a mim que compete decidir quem pode ver os prisioneiros.
Delenia assentiu.
- Verdade. Mas talvez pudesses falar com a Amara sobre o assunto…
- Talvez pudesse. – concordou Soran – E talvez ela me ouvisse. Mas tens a certeza de que estás disposta a deixar esse assunto nas minhas mãos?
- Eu não…
- Eu acredito que confias em mim. Mas não crês que Amara olhará de outra forma para o teu pedido se fores tu própria a fazê-lo? Não julgas que será mais provável que te aceite se lhe falares com as tuas próprias emoções?
A mulher hesitou.
- Amara… - murmurou – suspeita de mim.
- Tu também o farias – replicou Soran, compreensivo – a quem entrasse nos teus domínios acompanhado do inimigo. A ordem era matá-lo e não capturá-lo e temos de admitir que isso falhou. Mas a Amara não é de gelo – acrescentou, vendo o desânimo da mulher – e estou segura de que entenderá as tuas contradições, se lhe provares que pode confiar em ti.
- Mas como posso fazê-lo?
Soran sorriu.
- Tenta. – declarou – Com todas as forças daquilo que sentes. Assim, independentemente do resultado, saberás que deste tudo de ti. E Amara saberá quanto vales afinal.
 

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