domingo, 9 de novembro de 2008

Capítulo II (Parte 2)

Naquela noite, o sono faltou-lhe, afugentado pela sombra de todos os acontecimentos iminentes. Era, agora, somente uma questão de tempo até que os seus inimigos tombassem sob a força da sua mão vingativa, mas decretada a pena de morte, o peso da decisão que tomara assombrava-lhe o pensamento.
Levemente, Amara suspirou, deixando o calor da sua cama, para se levantar, ainda outra vez, em direcção à janela do seu quarto. Ali, os seus olhos encontraram a chuva, e, mais uma vez, o seu pensamento derivou até ao passado, à recordação do porquê de ter decretado a morte do seu próprio irmão.

Ainda se recordava da farsa que o seu irmão montara após a decisão do rei. Como familiar destroçado e entristecido, Caledon fizera questão de a acompanhar até à fronteira de Lithian, ostentando perante todos uma fronte chorosa e desolada, que, esporadicamente, quando se encontrava a sós com o olhar da sua irmã, se rasgava no esboço de um sorriso cruel. E depois, quando o lugar do exílio chegara, Caledon afastara-se, sem discursos, como se a dor o ferisse demasiado para o ferir, mas com uma simples frase murmurada, capaz de rasgar com mais precisão que uma espada.
- Devias ter ficado calada.
No silêncio dos bosques que delimitavam a passagem para o reino de Agaloth, Amara divagara, sozinha com as suas lágrimas e a sua raiva, encontrando na obscuridade do espaço uma negrura igual à que a invadira. E, enquanto corria, desolada e desesperada, amaldiçoando em silêncio a figura do seu irmão, conjuntamente com a da família que a condenara, a jovem exilada deparou-se com o sinal que buscava. Sem saber para onde se dirigia, Amara encontrara, diante de si, a forma do abismo.
Por um momento, as pernas tremeram-lhe, hesitantes acerca do que a sua mente lhes ordenava. Depois, contudo, a decisão tornou-se força, e Amara avançou um passo, ficando, em seguida, imóvel no limite da morte, à espera do sopro final que a lançaria no nada.
Não foi, contudo, a morte quem veio ao encontro de Amara, mas sim uma voz calma e suave, que, de alguma distância atrás de si, lhe dizia:
- Não o faças. Talvez haja para ti um caminho maior que esse que escolhes.
Lentamente, Amara recuou um passo, voltando-se depois para o seu interlocutor, que, surpreendentemente, a fitava com o claro verde de um olhar pleno de bondade e com um suave sorriso nos lábios.
- Não existe mais nada para mim. – respondeu – Tudo o que eu era e tudo o que eu amava morreu.
O homem assentiu.
- E quem crês que to roubou? – inquiriu.
O rosto de Amara contraiu-se num esgar de repulsa.
- Os senhores de Lithian. – disse – A família real. E o meu irmão.
Um leve sorriso brotou nos lábios do homem.
- Talvez não o saibas, - explicou – mas não és a única vítima dos Raven. São demasiados os que vêm, em fuga ou exilados, para fugir da arbitrariedade dos senhores de Lithian. Eu sou um deles. Mas não escolhemos morrer. Optamos, em vez disso, por lutar contra o inimigo. E esperamos. Tornamo-nos fortes, aprendemos com o conhecimento uns dos outros, e aguardamos, tranquilamente, a chegada de um líder que nos conduza até à vingança e à reparação dos crimes cometidos.
Amara assentiu.
- Mas eu não sou ninguém. – disse – Não tenho nada para ensinar.
- Talvez não. – concordou o homem – Mas talvez tenhas muito para aprender e o teu temperamento poderá ensinar-nos a lutar. Os rumores do teu exílio chegaram até aqui, jovem de sangue nobre. Sabemos quem és.
- Sabeis que me exilaram pelo assassínio dos meus pais? – perguntou Amara, provocadora.
- Do qual serás, certamente, inocente. Conhecemos a forma de agir dos Raven e as conspirações do teu irmão. Consigo imaginar quem será o responsável.
Em silêncio, Amara assentiu.
- Existe, aqui perto – prosseguiu o homem – uma pequena aldeia, chamada Varin. Há muito tempo que o rei de Agaloth sabe que aí se reúnem os exilados e os conspiradores, mas a verdade é que ele odeia os Raven tanto como nós e, portanto, não interferirá em nada que façamos. Vem comigo, e conquista connosco a oportunidade de derrubar os teus inimigos.
- Mas quem me ensinará a viver no exílio? – perguntou Amara.
- Eu. – respondeu o mestre – Eu estarei contigo para que aprendas.

1 comentário:

Leto of the Crows - Carina Portugal disse...

Quando se tem uma mão amiga, tudo parace mais fácil, tudo parece possível. A questão é: será que assim é?

Espero pela continuação ^^

 

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