terça-feira, 14 de abril de 2009

Capítulo V (Parte IV)

Quando Mordechai regressou, não foi possível evitar que um suspiro de alívio se soltasse dos lábios de Amara, tranquilizada ao ver que o seu amigo estava bem e que se fazia acompanhar pelos homens que com ele haviam partido. Havia, contudo, algo mais entre eles, uma presença que lhe dizia que muitas respostas viriam, naquele momento, à luz.
- Voltámos, Amara. – anunciou Mordechai, ao chegar junto dela – E trazemos-te a vitória.
Amara assentiu.
- Quantos perdemos? – perguntou.
- Nenhum. – replicou o seu amigo, sorrindo levemente – Temos alguns ferimentos ligeiros, é verdade, mas os números do adversário eram reduzidos. Vencemo-los sem dificuldade.
- Muito bem. – assentiu Amara – E quanto a sobreviventes?
Suavemente, Mordechai esboçou um gesto na direcção dos seus acompanhantes. Imediatamente estes arrastaram na sua direcção a figura suja e deplorável de um prisioneiro que, cuidadosamente manietado e de olhos vendados, foi forçado a ajoelhar diante da mulher que, ainda que ele não o soubesse, detinha nas mãos a sua vida.
- Creio – prosseguiu Mordechai, indicando o homem – que te dará todas as informações que quiseres. Isto se quiser escapar à dor… - acrescentou, sabendo que o prisioneiro o escutava.
- Pois deixa que me veja, – replicou Amara – para que saiba que tudo o que disser será a sério.
A venda foi removida dos olhos do prisioneiro, que, estremecendo, fitou, em desespero, o rosto da sua captora.
- Quem te enviou? – inquiriu Amara, bruscamente.
- Eu… - balbuciou o homem, hesitante - Eu não…
Com um gesto fulminante, Amara desembainhou a espada que sempre a acompanhava, encostando a lâmina à garganta do soldado.
- Não sou paciente. – declarou – Não te vou dar muitas oportunidades. Quem te enviou? Responde ou morre!
- A rainha! – replicou o homem, desesperado – A rainha Alessandra… Oh, por favor… Por favor, poupe-me.
Amara sorriu.
- Vou pensar sobre o teu caso. – declarou – Se cooperares o suficiente, talvez…
- Sim! – assentiu o prisioneiro, desesperado – Eu digo-lhe tudo! Tudo o que quiser, mas, por favor…
- Veremos. – interrompeu Amara – Viste os mortos do teu grupo? – perguntou.
O homem anuiu.
- Quantos sobreviveram?
Por um momento, o prisioneiro hesitou, mas um olhar à sinistra expressão de Amara dissuadiu-o da sua relutância.
- Um… - replicou – Só um… O nosso líder fugiu…
- Fugiu? – repetiu Amara, rindo – Vais precisar de muito para me convencer disso… Quem era o vosso líder?
- Gälart… - respondeu o prisioneiro, trémulo – Juro que é verdade… Gälart, o primo do príncipe… Ele não queria vir, mas a rainha disse-lhe que uma recusa lhe custaria a cabeça…
- Basta. – interrompeu Amara – Se estamos a falar do mesmo Gälart que eu conheci, uma fuga era o mínimo que se poderia esperar dele. Mordechai… - inquiriu, desviando a sua atenção do prisioneiro – Temos uns aposentos adequados ao nosso hóspede?
Mordechai sorriu.
- Ainda temos alguns quartos vagos – declarou – na ala do príncipe.
- Nesse caso, - indicou Amara – tratem de o instalar devidamente. E tem atenção… - acrescentou, fitando o prisioneiro – A mais pequena tentativa, o menor dos pensamentos no sentido da fuga ou de qualquer tentativa contra nós serão castigados com a morte. Estamos esclarecidos?
O homem respondeu com um aceno assustado.
- Muito bem. – concluiu Amara – Então não preciso de mais nada de ti.

- Gälart não se calará. – declarou Amara, ao reunir com os seus mais poderosos aliados. Sentia, fixos em si, os atentos olhos de Mordechai, o sempre apreciativo olhar do mestre e a perturbadora mirada de Mirian, a criança vidente. – Se conseguiu evadir-se, a corte de Lithian não tardará a saber da nossa existência.
- O poeta está morto. – anunciou, subitamente, a voz dos abismos, pelos lábios de Mirian – Procura-o nos bosques onde se deu o confronto, mas a alguma distância. Encontrarás o seu cadáver degolado.
Mordechai esboçou um aceno sombrio.
- Mas quem foi?
- Não sei. – replicou Mirian, a sua voz novamente infantil indicando que o poder se afastara – As vozes não mo revelaram. Dizem que não é necessário. Essa presença manterá o seu silêncio… pelo menos, para já.
- Pois vivamos com o que temos. – concluiu Amara – Procuraremos o corpo do poeta. Enterraremos os mortos desta luta. Nenhum sinal de nós será deixado para trás. Afinal, somos só uma inocente povoação de Agaloth.
As suas palavras foram recebidas com assentimentos silenciosos. Quando se preparava para abandonar a reunião, contudo, a voz dos abismos voltou a falar, calma e tranquila, mas terminante e verdadeira.
- Tens uma visita à tua espera, Amara. – disse – A tua vingança chegou.
 

site weekly hits
Corporate-Class Laptop