quinta-feira, 16 de abril de 2009

Capitulo V - Parte V

A chuva morosa acompanhava a noite insípida. O silêncio abraçava aquele particular lugar bem no meio da floresta. No chão estendia-se o corpo enlameado do poeta. Seis corvos andavam em círculos sobre o cadáver. Um deles, esguio e ágil, mergulhou na direcção do defunto. Os quatro seguintes seguiram-no, enquanto o último, sebento e com uma pequena ferida por cima do seu olho esquerdo pousou no tronco de uma árvore. Bicavam o corpo inerte. Um deles atingiu um dos olhos vidrados de Galärt, fazendo com que líquido ainda fresco deslizasse no rosto do primo do príncipe. Uma sombra entre os arbustos fez com que os corvos abandonassem o corpo, alinhando-se no tronco onde já se encontrava o corvo ferido. Ofélia surgiu entre os arbustos, levantou levemente a longa saia rasgada, para não a sujar numa poça que misturava lama e sangue. Aninhou-se perante o corpo e passou os dedos vagarosamente pelo pescoço rasgado do cadáver. Olhou para os dedos manchados de sangue e soltou um sorriso. Colocou-os dentro da sua boca e absorveu o sangue, levantou-se, e olhou para os corvos.
- Dhemiema tart wisho?
O corvo mais descarnado abaixou a cabeça e num ápice desapareceu voando.
- Lamento, meu querido. – sorriu Ofélia - A vida de boémia não serve para nada no campo de batalha. Perdeste pelo que não quiseste ser. Estamos em guerra mesmo quando estamos em paz. De um momento para o outro tudo muda. A tua mente foi contaminada pelas mulheres de parca inteligência com quem pernoitaste. Mas não te preocupes. A tua morte acabará por ser vingada. Não que eu tenha algum interesse numa desforra. Apenas é preciso fazê-lo. Elara não sabe ainda. Mas, mais do que qualquer um, é um fantoche. O meu fantoche!
A bruxa saiu do local, seguida pelos corvos.

Entretanto, Elara avistou o castelo, ainda faltava um pouco para a alvorada, mas ainda teria que chegar ao seu quarto sem ser notada.

Arus levantou-se para ir buscar um copo de água. Dirigiu-se à cozinha de uma maneira silenciosa. A sua filha dormia no sofá, o cobertor cobrindo-lhe o corpo inteiro, e o homem nem se aproximou para não a incomodar. Abriu a porta do armário e um copo caiu, estilhaçando-se no chão. Depois, os seus olhos gelaram de horror. A cabeça de sua filha estava pousada numa das prateleiras. O sangue escorria por entre o queijo oferecido por um dos mais conceituados produtores daquela iguaria. Caiu de joelhos no chão e vomitou. Esteve largos minutos a chorar em agonia. Depois, levantou-se em dificuldade e dirigiu-se à sala, ganhou coragem e destapou o corpo, que, como suspeitava, estava decapitado. Controlou-se para não voltar a tombar, deu alguns passos em direcção ao seu quarto, olhou uma última vez para trás e viu um vulto a levantar-se debaixo do cobertor.
- É hora de vingança! – exclamou uma voz bem conhecida – Morrerás, Arus Razza!
O cobertor caiu. Ofélia correu em direcção dele para o atacar…Engoliu em seco…Suspiro…Levantou-se da cama em sobressalto…Tinha sido tudo um sonho. Tirou a camisola de pijama toda transpirada. Estava ofegante. Subitamente, uma certeza assolou-lhe o pensamento. Tinha que matar a bruxa antes que esta o matasse a ele.

2 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Leto of the Crows - Carina Portugal disse...

Huuu... este foi mais mórbido ^^

Espero por mais ^^

 

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